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"" A Poesia quando chega ...""

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Vitória, Espirito Santo, Brazil
""Eu vivo em carne viva, por isso procuro tanto dar pele grossa a meus personagens. Só que não agüento e faço-os chorar à toa.(...) Ser cotidiano é um vício. O que é que eu sou? sou um pensamento. Tenho em mim o sopro? tenho? mas quem é esse que tem? quem é que fala por mim? tenho um corpo e um espírito? eu sou um eu? "É exatamente isto, você é um eu", responde-me o mundo terrivelmente. E fico horrorizado"". ("Um Sopro de Vida" , Clarisce Lispector)

sábado, 15 de janeiro de 2011

Sobre R.S

Sobre R.S


O reconhecimento

Estava lá parado e acompanhado.
O trem atrasado. Sempre atrasado.
Ao lado dele uma mulher de olhar maternal e eu o olhando já com meu costumeiro olhar Eros.
O vermelho da camisa em contraste com os leves cachos dourados.

Eu o vi, mas ele a mim não conheceu. Por que essas coisas que acontecem tomam conta do imaginário da gente? Sei que meu pensamento foi invadido pela súplica inocente: “Ele tem de reaparecer”.

Na estação mineira o trem apitava anunciando o desencontro e no percurso para minha terrinha natal o calor atravessava a janela me fazendo desmanchar e em minha mente a imagem se construía entre as ondas da praia que desejava me lançar e os olhos castanhos do desconhecido, que me transportavam pra beira da minha cama.

Meu desejo aqui não é narrar a odisséia que povoou nosso reencontro, ou melhor, nosso primeiro encontro. Contento-me em esclarecer que ele reapareceu. De vermelho, menos cachos dourados, músico e portador de um cheiro muito atraente. Não me refiro a cheiro no sentido de perfume, mas de epiderme lavada numa libido que impreguina. E seus olhos castanhos quebraram em mim como onda furiosa. E na noite de sua presença eu o vi tocar e desejei ser a canção, a métrica e a curva melódica de sua percussão, mas não fui.

Para ser justa digo que ele tornou a aparecer. Mas não simples acontecimento, pois me acometo a dizer que neste dia de fato ele me viu, reconheceu. Eu exposta, exausta e absorta com a imagem ora iluminada pelo sol, ora adoçada pelas árvores que circundam a praça onde estávamos. Vestia amarelo. Abraçou-me. Novamente a epiderme em flores. E o pensamento de minha parte: “Eu o desejo pra mim”.

O entrelaçamento

Mas uma noite sem sono pra fugir dos pesadelos e me permitindo ser acompanhada pelos amigos online. Como me faz falta a carta, o bilhete e a presença. Na noite tudo é abandono e busca desenfreada para conte-lo. Busca nada. Mas esses são segredos que não revelo a ninguém. Gosto de sentir que algo só a mim pertence. E novamente ele invadiu meu pertencimento e não silenciei segredos.

Uma vampira e um lobisomem traçavam-se por palavras, devoravam-se em ausência de olhar. Eu sanguinária sugava-lhe o sangue pela conexão banda larga, logo eu que de boa farsante virei nada e deixei claro minha ambição em encontrá-lo emergencialmente

Vivos e juntos nos devoraram, com ímpeto e impulso criativo o ébrio, os braços, as línguas e olhos almagamados. Senti-me tão dele e tão protegida, constante em ações. Sóbria apenas na partida.

Chego em casa, um banho morno e o pensamento a infligir a regra do silêncio que amanhece : “ Eu quero mais”.